Sem vencer nenhuma eleição para Presidência
da República em seus 50 anos de história, o PMDB assumirá o cargo pela terceira
vez em pouco mais de 30 anos. Com a confirmada ascensão de Michel Temer, o
partido passa a ter "100% de aproveitamento" de seus três vices, que
chegaram à Presidência.
O primeiro governo federal do PMDB se iniciou
em 1985, com José Sarney. Ele assumiu a Presidência por causa da morte de
Tancredo Neves, também peemedebista, que venceu a eleição indireta em janeiro
daquele ano, mas adoeceu e morreu antes mesmo de tomar posse.
Sarney, porém, não tinha nenhum histórico no
PMDB e se filiou em agosto de 1984, deixando o PDS num acordo com setores mais
conservadores para poder concorrer como vice de Tancredo.
O segundo presidente peemedebista também se
filiou em cima da hora. Itamar Franco assinou ficha em maio de 1992, quando o
governo Collor já enfrentava uma grave crise de popularidade. Itamar foi eleito
pelo PRN, junto com Collor, mas deixou o partido após uma reforma ministerial
feita em abril daquele ano. Em 2 de outubro, assumiu como presidente interino
após abertura de processo de impeachment --que viria a ser aprovado em
dezembro.
A reportagem do UOL procurou a assessoria de imprensa do PMDB na
terça-feira (10) para que comentasse sobre a nova ascensão de um peemedebista
ao poder. Foram feitos contato por telefone e por dois e-mails, mas até a
publicação da reportagem não houve resposta.
Derrotas nas urnas
O PMDB nasceu como MDB, em 24 de março de
1966, após o Ato Institucional 2, que instalou o bipartidarismo no país. Em 30
de junho de 1981, o partido se transformou em PMDB e é hoje a legenda mais
antiga e com maior número de filiados do país: 2,4 milhões de pessoas.
Desde a redemocratização e a retomada das
eleições diretas para presidente, o PMDB tentou por duas vezes chegar ao cargo
máximo do país, mas as tentativas acabaram marcadas por fiascos.
Em 1989, o PMDB lançou Ulysses Guimarães
ainda sob a égide de ter lutado pelas Diretas Já e liderado a Constituição de
1988. Porém, ficou apenas na 7ª colocação, com 4,6% dos votos válidos.
Em 1994, foi a vez de Orestes Quércia ser
candidato pelo partido, mas recebeu 4,3% dos votos, quando Fernando Henrique
Cardoso (PSDB) foi eleito no primeiro turno.
Em 2002, o PMDB concorreu à chapa majoritária
de José Serra (PSDB) com a vice-candidatura de Rita Camata --derrotada em
segundo turno por Lula. Em 2010, voltou ao poder com a eleição de Michel Temer
como vice de Dilma Rousseff (PT).
"Em mil pedaços"
Segundo o cientista político Michel Zaidan
Filho, da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), uma das explicações para
os insucessos do PMDB nas urnas é a falta de um conteúdo ideológico definido.
"Não há nenhuma sinergia entre os
setores nacional e regional. Esses chefes políticos não se movem por ideologia.
Eles fazem alianças que avalizem os projetos políticos", afirmou.
"E o PMDB também se deu mal por conta da
polarização entre Lula e Collor, em 1989; e entre Lula e FHC, em 1994. Não que
eles não merecessem, mas não havia espaço para outros nomes."
Zaidan Filho afirma que o partido foi mudando
ao longo dos anos e não é hoje nem sombra do que era nos anos 1980. "O
PMDB perdeu importância, como o outro partido --o PDS, depois PFL e hoje DEM--
originário da ditadura. Depois da transição para a democracia, ele se tornou
elefante branco, sem definição ideológica clara, sem comando. Também deixou de
ser de centro-esquerda, tornou-se um partido de oligarquias regionais",
disse.
"Apesar da maior capilaridade da
história, está repartido em mil pedações. O PMDB não tem dono."
O cientista ainda lembra que Michel Temer
será o primeiro peemedebista de carteirinha a assumir a Presidência, já que
Sarney e Itamar ingressaram no partido às vésperas de assumir o poder.
"Sarney foi da Arena, da UDN, depois PDS
e PFL, ou seja, não tinha ligação com o PMDB. Ele foi fruto de uma aliança do
partido com liberais. Já Itamar, apesar de ter integrado o antigo MDB, saiu e
não tinha ligação histórica com o PMDB", afirmou.
"Depois que assumiu, ele virou um pedaço
do partido, que era o pedaço da oposição. Ele nunca teve unanimidade e, de
fato, não tinha a confiança dos grupos."