Ao receber da Câmara o processo de impeachment, o presidente do Senado
ganha poder sobre o tempo de sobrevivência de Dilma – e dele próprio
Na Câmara dos
Deputados, conduzida pelo presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ),
o tempo voou. Cunha marcou sessões plenárias às segundas e sextas-feiras, dias
pouco usuais no calendário do Congresso, para correr o prazo da defesa. Virou
madrugadas – a discussão do parecer do impeachment se deu na sessão mais longa
da história da Casa, com 35 horas. Marcou a votação do impeachment para um
domingo.
Entre a eleição da comissão do impeachment e a votação que carimbou a
faixa presidencial de Dilma, passou-se um mês. Cunha pediu pressa a Renan, seu
desafeto, ao entregar o processo ao Senado. “A partir do momento em que a
Câmara autorizou a abertura, a demora é prejudicial ao país, porque você está
com um governo que é um meio governo. Ou ele vira de novo o governo ou deixa de
ser governo”, afirmou Cunha.
“Quanto mais o presidente da Câmara tentar
interferir no ritmo de andamento do processo no Senado, sinceramente, ele só
vai atrapalhar”, disse Renan. Ninguém deve esperar do Senado a mesma rapidez da
Câmara. Como o país viu pela televisão durante a votação histórica, os 513
deputados formam um colegiado jovem e de densidade política relativamente
baixa. O Senado forma uma casta distinta. Em suas 81 cadeiras há
ex-governadores, ex-ministros e um ex-presidente. São menos sensíveis à
influência das ruas ou às pressões do presidente da Casa, seja para acelerar ou
atrasar o passo. Ao determinar o rito do impeachment, o Supremo Tribunal
Federal (STF) reduziu a margem de interferência de Renan a um ajuste fino.
Ainda assim, o ajuste fino conta muito.|epoca