Todos os seis deputados do PSOL, 19ª partido a se pronunciar no plenário
da Câmara no processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, contestaram
em seus discursos a legitimidade do presidente da casa, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), em conduzir tal processo, uma vez que é réu em inquérito autorizado
pelo Supremo Tribunal Federal (STF), por suspeita de recebimento de propina e
lavagem de dinheiro. A denúncia foi apresentada pela Procuradoria-Geral da
República.
Após apresentar o
PSOL como uma legenda de oposição à esquerda, que não possui cargos no governo,
o líder do partido e primeiro a discursar, Ivan Valente (SP), comparou o
processo de impeachment ao golpe civil-militar de 1964. Para ele, não há
argumentos para a derrubada da presidenta e “caçá-la por impopularidade ou por
'conjunto da obra', com todas as críticas que nós temos […] é uma farsa.”
Em sua fala, o
deputado Jean Wyllys (RJ) se disse constrangido em participar de um processo de
impeachment comandando por um “réu que se comporta como gângster”. Para o
deputado, a tentativa de afastar Dilma é um ataque contra as eleições diretas.
“A tentativa de perdedores ressentidos, conspiradores, traidores, da grande
mídia, de forçarem uma eleição indireta, ilegal e imoral não tem outro nome: é
golpe, golpe parlamentar”, disse.
Tanto ele, como a
deputada Luiza Erundina (SP) afirmaram que as chamadas pedaladas fiscais, um
dos argumentos que constam no pedido de impedimento de Dilma, não são crimes,
mas uma prática comum, utilizada amplamente por governantes atuais e anteriores
na gestão de seus orçamentos, nas três esferas do governo, mas que é agora
utilizada como álibi para tentar derrubar Dilma e fazer avançar uma agenda
retrógrada e conservadora.
Erundina também
criticou a permanência de Cunha, que se retirou do comando da sessão enquanto
discursavam os deputados do PSOL, na presidência da Câmara, enquanto é réu no
STF. “Um processo [de impeachment] conduzido por um deputado réu, investigado
por corrupção e lavagem de dinheiro, envergonha essa Casa diante da sociedade
brasileira e enxovalha a imagem do Brasil no mundo”, disse a deputada,
ex-prefeita de São Paulo.
Apesar do PSOL se
posicionar unanimemente contra o impeachment, chamado de golpe por todos os
deputados da legenda, o partido não poupou críticas ao governo de Dilma
Rousseff.
“Há um desrespeito
da vontade popular expressa nas ruas, no último pleito presidencial, que não
está sendo respeitado nem pela oposição nem pela situação. Dilma desrespeitou o
programa pelo qual se elegeu, ao adotar politica econômica semelhante à de seus
adversários”, disse Erundina.
Após lamentar que
os parlamentares não tenham promovido uma reforma política ao longo dos últimos
anos, Chico Alencar (RJ) reconheceu que a corrupção é um problema grave entre
políticos petistas, embora o argumento não sirva para legitimar o processo de afastamento
da presidenta que está sendo discutido na Câmara. "Lamento que o PT tenha
entrado no esquema [corrupto] que sempre criticou. Mas esse impeachment é uma
fraude, um engodo", disse o deputado.
As discussões
sobre o processo de impeachment de Dilma começaram ontem (15), às 8h55 e, com
isso, já duram mais de 30 horas. Entre um e outro partido, as lideranças voltam
à tribuna para se posicionar.|agenciabrasil