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Foto: Divulgação PGR |
Na semana em que a Câmara dos Deputados tem prevista a
votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff, o procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, tem em sua mesa a definição sobre um pedido de
investigação da petista por participar das tentativas de “tumultuar” as
investigações da Lava Jato. O grupo de trabalho do procurador-geral se debruça
nos próximos dias sobre o que chamam de “arquitetura” da investigação. Com todo
o material nas mãos, a palavra final será dada por Janot, que se manteve
afastado do gabinete na última semana em licença médica.
A
previsão é de que ainda nesta semana sejam encaminhados ao Supremo Tribunal
Federal (STF) os pedidos de inquérito com base na delação do ex-líder do
governo Delcídio Amaral (sem partido-MS), que já estão em fase final na
Procuradoria Geral da República (PGR).

Desde
a delação do petista, procuradores já avaliam a possibilidade de um inquérito
contra a presidente, o que ganhou força com o avanço da operação sobre o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a chegada à PGR do material obtido
nos grampos telefônicos.
Com
relação à obstrução de investigações, a ideia é trazer para o campo criminal o
parecer assinado pelo procurador-geral e encaminhado ao STF anteontem. Na peça,
Janot diz que a nomeação de Lula para a Casa Civil por Dilma faz parte do
“cenário” em que foram identificadas diversas tentativas de atrapalhar as
investigações criminais da Lava Jato e vê no ato uma forma de “tumultuar” e
atrasar a investigação. Por “coerência”, dizem fontes com acesso ao caso, a
definição sobre o eventual inquérito de Dilma deve seguir a mesma premissa.
Para
formarem o pedido de investigação, procuradores devem unir três materiais: a
delação de Delcídio, as conversas por telefone interceptadas pela Lava Jato e
as investigações em andamento sobre Lula. Na delação, Delcídio citou por
exemplo uma investida do Planalto sobre o Judiciário para influir nas
investigações com a suposta indicação do ministro do Superior Tribunal de
Justiça Marcelo Navarro Ribeiro Dantas.
Lula. Já as implicações sobre Lula podem ser cruciais para os
desdobramentos criminais com relação a Dilma. Isso porque o crime de embaraço
às investigações prevê a tentativa de atrapalhar apuração de infrações penais
que envolvam organização criminosa. É necessário apontar, portanto, que há
indícios de envolvimento de Lula em uma organização criminosa para enquadrar o
ato da presidente de nomeação do petista no crime de obstrução Por isso, o
material sobre o tríplex no Guarujá e o sítio em Atibaia, ambos supostamente
pertencentes ao ex-presidente, serve de apoio à definição sobre Dilma.
Em
março de 2015, Janot descartou a possibilidade de investigar a presidente mesmo
após menção ao nome de Dilma por delatores. Pela Constituição, alegou o
procurador, não cabe investigação de presidente da República durante o mandato
por atos alheios ao período e à função de presidente. Esse tipo de preliminar,
no entanto, já foi descartada na PGR no caso dos óbices à investigação.
O
“cenário” das tentativas de obstrução é formado também por conversas laterais
grampeadas que envolvem o Planalto, como diálogo em que o presidente do PT
sugere ao então ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, um pedido de ajuda para
evitar a prisão de Lula.
Independentemente
da definição do plenário do Supremo sobre a validade da posse de Lula, o
ex-presidente será investigado perante a Corte. Os procuradores suspeitam da
prática de crimes pelo petista que têm conexão com investigações que envolvem
pessoas com foro privilegiado. É o caso da suspeita, levantada por Delcídio, de
que Lula seja o mandante de pagamentos à família de Nestor Cerveró para calar o
ex-diretor da Petrobrás.
Em
delação, Delcídio afirmou que Lula solicitou ajuda para o amigo e pecuarista
José Carlos Bumlai, que estaria implicado nas delações de Cerveró e do lobista
Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano. Delcídio seria responsável,
segundo declarou aos investigadores, por intermediar o pagamento de valores à
família do ex-diretor da Petrobrás com recursos de Bumlai. Lula prestou
depoimento a procuradores da Lava Jato em Brasília na quinta-feira sobre o
assunto.|r7