Apesar
disso, a presidente corre risco real de ser afastada do cargo antes de o
julgamento de Cunha ser concluído.
O
ritmo de análise dos dois procedimentos tem variado em grande parte devido aos
interesses do presidente da Câmara, cujo cargo lhe confere poder de acelerar ou
retardar o funcionamento do plenário e das comissões da Casa – apontam
parlamentares tanto da base governista como de partidos independentes.
Diante
disso, muitos têm questionado a legitimidade de Cunha para conduzir o processo
contra Dilma.
"Um
deputado que é réu (em processo no Supremo Tribunal Federal) é isento para
conduzir o processo de impeachment da presidente? Eu acho que não", disse
o deputado José Carlos Araújo (PR-BA), presidente do Conselho de Ética da
Câmara.
Após adotar medidas que
atrasaram a instalação da comissão especial de impeachment, o presidente da
Câmara agora trabalha para acelerar seu funcionamento, convocando sessões
plenárias também às segundas e sextas-feiras - o que é incomum no Congresso,
que em geral funciona de terça a quinta.
O objetivo é apressar os
prazos para a apresentação da defesa da presidente (dez sessões plenárias) e
para a comissão especial de impeachment votar seu parecer (cinco sessões). A
expectativa da oposição é que essas duas etapas sejam concluídas na segunda
semana de abril.
Em seguida, o parecer será
submetido ao plenário, que avaliará se aprova a abertura de um processo contra
a presidente no Senado.
Está em discussão proposta
do líder do Solidariedade, Paulo Pereira, o Paulinho da Força, de realizar essa
votação no domingo, 17 de abril, com objetivo de atrair manifestantes contra o
governo para a frente do Congresso.
Se mais de dois terços dos
deputados votarem pela abertura de um processo de impeachment, tal decisão
ainda terá que passar pelo crivo da maioria dos senadores. Se uma eventual
decisão nesse sentido passar nas duas Casas, Dilma fica automaticamente
afastada do cargo enquanto é julgada pelo Senado.
O processo contra Cunha foi
aberto em 2 de março, após sucessivos recursos de aliados do presidente da
Câmara terem protelado a decisão do conselho.
Para alguns parlamentares,
a atuação inicial de Cunha no sentido de atrasar a instalação da comissão de
impeachment teve como objetivo tirar o foco dos trabalhos no Conselho de Ética.
Ele poderia ter instalado a comissão especial de impeachment no início de
fevereiro, mas preferiu recorrer da decisão do STF que definiu em dezembro o
rito de impeachment – como esperado, os recursos não foram aceitos.|bbc-brasil