O senador Fernando Collor de
Mello (PTB-AL) gastou R$ 16,4 milhões entre 2011 a 2014 com despesas de
consumo, como pagamento de contas de energia elétrica, água, telefone, TV por
assinatura, passagens aéreas, segurança privada, medicamentos, funcionários, tributos,
entre outros. As informações constam de laudo da Polícia Federal, finalizado em
14 de janeiro, para a Operação Politeia que investiga suposto envolvimento do
senador com esquema de corrupção na BR Distribuidora.
Collor é suspeito de receber propina em troca de contratos com a
subsidiária da Petrobrás que era controlada politicamente por ele até o ano
passado. Suas empresas seriam usadas para lavar o dinheiro por meio de
empréstimos fictícios. Os gastos milionários com consumo são bem inferiores a renda
declarada pelo senador em todo o período, de R$ 700 mil.
Ao analisar documentos apreendidos na sede da TV Gazeta, os
investigadores descobriram que Collor fez 6.762 empréstimos entre 2011 e 2014
com sua empresa que totalizaram R$ 31,1 milhões. Desse montante, 49,5% foram
destinados a cobrir gastos correntes do senador. Há registros de pagamento de
horas de voo (R$ 140.250), viagens de turismo internacional (R$ 30.874), conta
de energia elétrica em Campos do Jordão (R$ 1.782), três despesas registradas
como “Foto campanha FC 2010”, ano em que ele disputou e perdeu a eleição para o
governo de Alagoas. O último valor não foi registrado.
Os investigadores destacaram que o fato de Collor ter usado parte
do dinheiro que tomou “emprestado” da TV Gazeta com despesas pessoais é
relevante porque são valores que não podem ser recuperados, ao contrário do que
ocorre com bens adquiridos cujos valores poderiam ser readquiridos por meio de
venda. “A TV Gazeta, além de conceder empréstimos a Collor sem observar sua capacidade
de pagamento, não se preocupou com o fato de que ele despendeu pelo menos
metade dos recursos recebidos em consumo – e o fez com o conhecimento da
empresa, pois ela registrava isso na sua contabilidade”, diz a perícia.
“Os rendimentos declarados por ele de 2011 a 2013 foram ínfimos em
relação ao montante da dívida perante a TV Gazeta (R$ 31,14 mi). Essa dívida
era de 110 vezes o valor dos rendimentos anuais do senador em 2011 e 118 vezes
em 2013”, escreveram os peritos. Para concluir que as supostas dívidas de
Collor com a TV Gazeta “foram constituídas em circunstâncias que caracterizam
transferências de recursos e não empréstimos, ainda que tenham sido
contabilizados como tal.”
Os documentos apreendidos na TV Gazeta e outras duas empresas que
tem Collor como sócio revelaram aos investigadores que a empresa recebeu ao
menos R$ 9,6 milhões em dinheiro vivo, além de outros repassem sem qualquer
relação com sua atividade. Do montante, R$ 523 mil foram depositados pelo
doleiro Alberto Youssef, um dos delatores da Operação Lava Jato, e Rafael
Ângulo, que distribuía propina a mando do doleiro. Os dois fizeram 17 depósitos
entre outubro de 2012 e janeiro de 2014.
A perícia comprovou o que foi dito em depoimentos na Lava Jato de
que Ângulo viajava para Maceió para fazer as entregas de dinheiro em espécie
destinadas a Collor. As datas das viagens coincidem com as dos depósitos,
realizados um ou dois dias depois.
Dos R$ 9,6 milhões, R$ 5,6 milhões foram para Collor ou sua
mulher, Caroline. Do montante, R$ 3,3 milhões foram contabilizados pelas
empresas como sendo para abater a suposta dívida do casal, mas os
investigadores descobriram que até isso era uma operação simulada. “Em alguns
casos, os depósitos foram transferidos imediatamente (de volta) para Collor.”
Collor tem negado irregularidades nos empréstimos tomados com suas
empresas. Em nota ao Estado em novembro passado, sua assessoria
informou que “todos os gastos e despesas realizados pelo senador Fernando
Collor são categoricamente compatíveis com os recursos por ele recebidos nos
anos de 2011 a 2013, considerados os rendimentos recebidos e os empréstimos
tomados no período, notadamente junto à TV Gazeta de Alagoas, empresa familiar
da qual é acionista.” Fonte: O
Estado de São Paulo - alagoinhashoje