Questões
de ordem, recursos judiciais e muita conversa com aliados que, até o momento,
mantêm-se fiéis.
Essas são as armas que Eduardo Cunha (PMDB-RJ) tem utilizado para manter-se
presidente da Câmara, desnortear o governo e
protelar ao máximo o início de fato do processo contra si no Conselho de Ética
por quebra de decoro.
Cunha é acusado pelos adversários de usar o cargo para se
proteger e promover chantagens.
Ele já foi alvo de representação na Procuradoria-Geral da
República, onde há duas alas conflitantes - a que acha que deve intervir e a
que entende que essa é uma questão interna do Legislativo. Aliados e o próprio
peemedebista argumentam que apenas seguem o regimento e exercem o direito de defesa.
Na guerra regimental, com direitos a gritos, tapas e cabeçadas,
já se vão sete sessões do Conselho de Ética sem que se vote o parecer pela
continuidade da ação contra o peemedebista.
Em uma tentativa de ao menos se votar o relatório neste ano, a
cúpula do conselho agendou sessões para manhã, 14, e a tarde da terça-feira e
deixou os conselheiros de sobreaviso para eventual convocação na manhã de
quarta. A expectativa é de que se vote o parecer do novo relator da ação,
Marcos Rogério (PDT-RO).
"Ele tem usado habilmente o regimento para tentar
dificultar que o processo avance. Ora usa a força dos aliados, ora brechas no
regimento. Talvez consiga votar a admissão, mas só no próximo ano conseguiremos
produzir o relatório pela cassação dele ou não", disse o deputado Betinho
Gomes (PSDB-PE).
No pequeno, superlotado e extremamente quente plenário que é
oferecido pela administração da Casa para as reuniões do colegiado, o
malabarismo regimental é protagonizado por sua tropa de choque, encabeçada por
André Moura (PSC-SE), Paulinho da Força (SD-SP) e Manoel Júnior (PMDB-PB), além
de Carlos Marun (PMDB-MS), Vinícius Gurgel (PR-AP) e Wellington Roberto
(PR-PB).
Este último partiu para as vias de fato com o petista José
Geraldo (PT-PA), quando, na quinta-feira passada, o petista disse que "a
turma do Cunha quer bagunçar aqui".
Na semana passada, os aliados de Cunha conseguiram afastar o
primeiro relator do processo, Fausto Pinato (PRB-SP), em uma estratégia que
começou na Justiça e acabou na Mesa Diretora da Câmara.
A defesa do presidente da Casa tentou na Justiça remover Pinato
do cargo, o que foi negado pelo Supremo Tribunal Federal. O ministro Luís
Roberto Barroso disse que a questão era "interna corporis" e,
portanto, deveria ser resolvida na própria Câmara.
O que pareceu uma derrota foi, no entanto, vitória de Cunha. O
primeiro vice-presidente da Casa, Waldir Maranhão (PP-MA), decidiu
monocraticamente tirar Pinato da função. Assim como seu aliado que comanda a
Câmara, Maranhão também é investigado na Operação Lava Jato.
As manobras são articuladas entre os companheiros de Cunha e o
advogado que o representa no Conselho de Ética, Marcelo Nobre. O próprio
Eduardo Cunha participa de reuniões promovidas durante o dia na presidência e à
noite na residência oficial.
Para a questão de ordem que põe sob suspeita Araújo, por
exemplo, Marun diz ter "trocado uma ideia" com Manoel Júnior e Nobre.
"Deixaram a decisão para ser tomada por mim", afirma o deputado pelo
Mato Grosso do Sul.
"Não era minha intenção apresentar se o presidente não
passasse a tomar decisões contaminadas por esse desejo de condenar o Cunha.
Talvez até não apresentasse."
Assim como os demais aliados, Marun nega que as medidas tenham
objetivo protelatório. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. |exame