A ex-senadora Marina Silva afirmou neste domingo, 22, que o governo está
blindando o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), como forma de
impedir o andamento de um processo de impeachment da presidente da República,
Dilma Rousseff. Ela disse acreditar que já há provas que trazem convicção sobre
a culpa do deputado, mas ressaltou que ainda não vê fatos contra a presidente.
A Rede Sustentabilidade, partido de Marina, é coautora, junto com o
PSOL, de uma representação no Conselho de Ética da Câmara que pede a cassação
de Cunha. No pedido feito no mês passado, os partidos argumentam que houve
quebra de decoro, já que o deputado teria mentido em depoimento à CPI da
Petrobras, em março, quando disse que não tinha contas no exterior.
"Uma parte da oposição blindava (Cunha) em nome do impeachment e o
governo continua blindando em nome do não impeachment", disse Marina, que
foi candidata ao Palácio do Planalto, no ano passado "Neste momento, as
provas que foram juntadas contra o presidente da Câmara dos Deputados não são
fabricadas. Acontecem dentro de um processo que leva os parlamentares a uma
convicção, com base naquilo que foi trazido pelas apurações. É isso que deve
ser feito com relação à presidente."
Sobre a possibilidade de impeachment de Dilma, Marina afirmou que é
preciso haver provas contra a presidente, assim como no caso de Cunha.
"Não se muda presidente só porque a gente está discordando", resumiu
ela.
Crise e Abismo
Em convenção da Rede Sustentabilidade, realizada em Brasília, a
ex-senadora criticou a dificuldade do governo de responder à crise econômica e
reafirmou avaliações que vem fazendo recentemente. Para Marina, o País vive uma
divisão de propostas para solução da crise - aquelas feitas pelo ministro da
Fazenda, Joaquim Levy, as do PT, as do PMDB e as do presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL). "Tem quatro planos para a crise e nenhum deles com
capacidade de responder à crise", insistiu.
No seu diagnóstico, o debate sobre a solução do momento econômico
difícil está atualmente reduzida ao ajuste fiscal. "Antes do ajuste
fiscal, é preciso que se tenha o ajuste Brasil", afirmou a fundadora da
Rede, antes de dar um recado a Levy, que frequentemente fala em
"travessia" para o crescimento. "A gente pode pensar que se faça
uma travessia difícil para chegar à outra margem, mas que do outro lado não se
tenha um abismo", argumentou.
Aplaudida pela plateia, a ex-senadora também criticou a política de
empréstimos subsidiados a empresas selecionadas pelo Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). "Sacrifício não é para que se
continue captando recursos a 14,25% da taxa Selic e emprestando a 4% para
aqueles que foram escolhidos para serem os campeões nacionais. Escolhidos sem
critério de transparência", ressaltou.
Marina enalteceu, ainda, o juiz Sérgio Moro, responsável pela condução
da Operação Lava Jato. "O trabalho que a Polícia Federal está fazendo, que
a Justiça está fazendo, que o juiz Moro está fazendo deve ter todo o apoio da
sociedade brasileira", disse.
Tragédia em Mariana
No discurso, que terminou sob gritos da plateia de "Brasil, pra
frente. Marina presidente", a ex-senadora classificou o rompimento da
barragem de rejeitos da mineradora Samarco -- joint venture entre Vale e BHP
Billiton --, em Mariana (MG), como "um dos maiores crimes ambientais da
história desse País". "Esse crime está sendo tratado como se fosse um
desastre natural Vemos que há um retrocesso enorme", afirmou. Na sua
opinião, todos os empreendimentos considerados de risco no País devem passar
por reavaliação. |novojornal