Em meio à crise política e
econômica que atinge o país, o governo terá de enfrentar no Congresso uma
pauta-bomba que põe em risco as contas públicas. São cinco propostas que, se
aprovadas pelos deputados e senadores, vão onerar os cofres da União, estados e
municípios em até R$ 106 bilhões.
A sangria de dinheiro público
começou com o aumento para advogados da União, delegados da Polícia Federal e
da Civil, além de procuradores estaduais e municipais.
Aprovada na semana passada por
445 deputados, incluindo petistas, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC)
vincula o salário desses servidores ao dos ministros do Supremo Tribunal
Federal (STF) e representará um gasto extra de R$ 2,4 bilhões aos cofres
públicos.
Essa cifra é, no entanto,
‘fichinha’ diante dos exorbitantes R$ 60 bilhões ao ano previstos com o
estabelecimento de um piso nacional para o salário de policiais militares. É o
item mais caro da pauta-bomba. Mas a lista de aumento de gastos não para por
aí.
A derrubada dos vetos da
presidente Dilma Rousseff ao aumento dos servidores do Judiciário e ao reajuste
do salário mínimo para as aposentadorias vão chegar, juntos, a quase R$ 35
bilhões.
Além disso, a Câmara vai avaliar
a correção do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), que custará R$ 10
bilhões anuais.
“O governo perdeu o poder sobre
as pautas com a eleição do Eduardo Cunha, e, agora, perdeu totalmente a base
governista”, avalia o cientista político da PUC Rio Ricardo Ismael.
“O momento atual é de muita
incerteza e tensão, e deve perdurar até o fim de 2015. É difícil imaginar qual
será o desfecho”, afirma.
O consultor econômico Raul
Velloso, ex-secretário de Assuntos Econômicos do Ministério do Planejamento no
governo de Fernando Henrique Cardoso, considerou “um absurdo” a aprovação do
reajuste para a AGU, delegados de polícia e procuradores. Para ele, os
deputados estão “se aproveitando da fragilidade do governo”.
“Estamos no meio de uma crise
fiscal gigante, a ponto de perder o grau de investimento, e essa pauta vai nos
empurrar para o precipício. É mais uma irresponsabilidade num país que está
completamente sem rumo”, afirma.
Líder do PT ‘torce’ contra
votações
O líder do PT na Câmara dos
Deputados, deputado Sibá Machado (PT-AC), engrossou o coro dos que alertam para
o perigo da aprovação da pauta-bomba.
Ao DIA, ele disse esperar que o
presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), não paute tão cedo os projetos que
criam gastos. Sibá está particularmente preocupado com a votação dos vetos de
Dilma aos reajustes das aposentadorias e dos servidores do Judiciário.
Ele disse que não ficou
satisfeito com a aprovação da PEC que aumenta em R$ 2,4 bilhões os gastos. “Do
jeito que foi aprovada, a PEC está inviabilizada, porque acabará com as
finanças de estados e municípios”, afirmou o deputado, que votou a favor da proposta.
“É impossível passar essa PEC
assim. Essa disputa política está colocando o país em perigo. A oposição está
brincando com o fogo”, observou.
Para a deputada e líder do PC do
B, Jandira Feghali (RJ), o governo precisa mudar a sua ação dentro do Congresso.
“É necessário uma nova postura, pois estão jogando contra o país. Não pode toda
negociação salarial ir parar na Constituição. Estão se aproveitando da
fragilidade do Congresso.”|tribunadabahia