Quem nomeou
Joaquim Barbosa para falar em nome de "brasileiros honestos",
questiona Ricardo Kotscho, em seu blog, ao rebater a mensagem do
ex-presidente do STF em que pede a demissão do ministro da Justiça, José
Eduardo Cardozo. O jornalista pergunta, ainda, qual foi a real intenção de JB
ao fazer tais críticas. "Se foi para derrubar o ministro da Justiça,
perdeu. Com sua 'exigência', apenas reforçou a permanência de Cardozo no cargo,
pois sabemos que a presidente Dilma não é de ceder a pressões", avalia.
Leia a íntegra de seu texto:
No vazio político, ressurge Joaquim, pedindo passagem
Com a presidente Dilma Rousseff descansando numa praia da Bahia e o Congresso
Nacional em recesso carnavalesco de 12 dias, o vazio político destes dias de
sassaricos tinha que ser ocupado por alguém, como costuma acontecer.
Do nada,
ressurgiu Joaquim Barbosa, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, que
deixou o conforto da sua aposentadoria precoce e do belo apartamento de Miami
para aparecer como convidado especial, entre outras celebridades, no camarote
montado pelo jornal O Globo no sambódromo da Marques de Sapucaí.
Depois de
viver seus dias de glória e rapapés na mídia nativa durante o julgamento do
mensalão, Joaquim andava sumido do noticiário. Para voltar aos holofotes,
aproveitou o Carnaval, e começou a disparar mensagens no twitter, tendo como
alvo o ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, aquele que só pensa em ocupar
a sua vaga ainda aberta no STF.
"Nós,
brasileiros honestos, temos o direito e o dever de exigir que a presidente
Dilma Rousseff demita imediatamente o ministro da Justiça", disparou, em
meio à folia, referindo-se aos encontros que Cardoso manteve com advogados dos
envolvidos na Operação Lava Jato.
Nós quem,
cara pálida? Quem o nomeou para falar em nome dos "brasileiros
honestos" e se dirigir desta forma à presidente da República?
Empolgado
com a repercussão, Joaquim voltou a atacar na madrugada de terça: "Se você
é advogado num processo criminal e entende que a polícia cometeu
excessos/deslizes, você recorre ao juiz. Nunca a políticos! Os que recorrem à
política para resolver problemas na esfera judicial não buscam a Justiça.
Buscam corrompe-la. É tão simples assim".
Nem tanto.
Como era de se esperar, alguns dos mais renomados advogados e juristas
brasileiros reagiram indignados à lição de moral dada pelo ex-presidente do
STF, sem ninguém lhe pedir, e a OAB divulgou uma nota de repúdio, assinada pelo
seu presidente, Marcus Vinícius Furtado Coelho:
"O
advogado possui o direito de ser recebido por autoridades de quaisquer dos
poderes para tratar de assuntos relativos à defesa do interesse dos seus
clientes. Essa prerrogativa do advogado é essencial para o exercício do amplo
direito de defesa. Não é possível criminalizar o exercício da profissão".
Nesta
quarta-feira, o ministro Cardoso também resolveu reagir aos ataques de Barbosa.
Em entrevista à Folha, chamou o ministro aposentado de autoritário:
"O
ministro Joaquim Barbosa tem o direito de falar o que bem entende. Não vou
polemizar. O que vou dizer é que as pessoas que têm mentalidade autoritária de
criminalizar o exercício da advocacia não percebem que vivem num Estado de
direito (...) Talvez para alguns nem devessem existir contraditório, ampla
defesa e advogados no mundo. Talvez preferissem o linchamento".
Também
defendo, claro, todo o direito de Barbosa se manifestar sobre qualquer assunto,
quando e como bem entender. Recomenda-se, porém, a um ex-presidente do Supremo
Tribunal Federal, pelo simbolismo do cargo, que mantenha um mínimo de recato,
respeito e responsabilidade ao se dirigir à presidente eleita, a um ministro de
Estado ou ao conjunto de uma categoria profissional que exerce papel
fundamental nas democracias.
O que quer,
afinal, Joaquim Barbosa?
Se foi para
derrubar o ministro da Justiça, perdeu. Com sua "exigência", apenas
reforçou a permanência de Cardoso no cargo, pois sabemos que a presidente Dilma
não é de ceder a pressões, ao contrário, ainda mais vindas de alguém que hoje
não tem procuração para falar em nome de nenhum setor representativo da
sociedade.
Para
consegui-lo, Joaquim teria que entrar num partido político, candidatar-se a
algum cargo público e submeter-se ao voto, como parece ser seu objetivo, ao não
se conformar com o esquecimento pós-aposentadoria. Fora disso, só se estiver
disposto a pedir passagem para vestir a fantasia do "salvador da
pátria", acima dos partidos e da legislação vigente, que muitos andam
procurando como atalho para voltar ao poder.
E viva a
Vai-Vai!