O novo
governador da Bahia, Rui Costa (PT), anunciou que vai convocar cerca de 4 mil
policiais militares que estão fora de suas funções, em atividades burocráticas
no estado, para reforçar o policiamento nas ruas. A declaração foi dada à A TARDE, na noite de sexta-feira, 2, em seu primeiro
dia de trabalho como governador e minutos depois de nomear o coronel Ancelmo
Brandão para o comando-geral da Polícia Militar. Leia a íntegra da entrevista.
O senhor
acaba de recepcionar a presidente Dilma na Base Aérea. Vão se encontrar neste
final de semana?
Não
combinamos nada. Fui recebê-la como amigo. Foi um rápido encontro, porque ela
está em férias de descanso com a família. Mas ela voltou a reafirmar que a
Bahia pode contar com a presidente, e nós vamos agendar, o mais breve possível,
uma agenda de trabalho, logo no seu retorno a Brasília.
Qual
a sensação de estar sentado na cadeira que foi ocupada por oito ano pelo seu
padrinho político, o ex-governador Jaques Wagner?
Olha ,eu
diria que a sensação maior não foi o dia de hoje. Eu diria que tiveram dois
momentos neste período todo. Um, foi no dia do resultado da eleição (5 de
outubro). O outro, ontem (dia 1º), na posse. Começou quando eu estava
escrevendo o discurso, as lágrimas vieram, é como filme que vem em alta
velocidade, a história da nossa vida, particularmente a minha, sem nenhuma patrimônio.
Eu sempre estava do outro lado da mesa despachando e hoje, estou do lado de cá.
Mas a emoção, mesmo, foi o dia de quinta (na posse).
Aumentou
a responsabilidade.
Ah, sim.
Aumenta muito a responsabilidade. Mas me considero tranquilo, preparado, em condições
de responder e com motivação muito grande. Este mês já começo a ir para o
interior, a realizar tudo aquilo que falei nos comícios e nos palanques. Onde
tiver hospital estadual vou visitar.
O
senhor assume em cenário de crise. Antes da sua posse foi feita uma reforma
administrativa e, para reduzir custos, suspensas férias e gratificações. O
arrocho vai permanecer até quando?
Ele vai
continuar e vai aumentar. Acredito que é no momento de crise, de aperto, que se
faz as principais e melhores mudanças. Então, vamos aproveitar essa crise para
sairmos melhores do que entramos: refinando a gestão, priorizando o que deve
ser gasto e investido. É isso o que estou pedindo aos secretários, que revisem
todos os aluguéis de imóveis no Estado, busquem locações mais baratas, e
revisem a lotação de cada órgão, para redimensionar funções. Vamos lançar
olhares sobre todas as áreas, buscando gastar cada centavo da forma melhor.
O
senhor disse, após a cerimônia de posse, que acha difícil que novas
transferências da União ocorram antes do segundo semestre. Como vai administrar
este início de governo ?
Nós temos
muito contratos em andamento, contratos de obras que ainda vão iniciar. Então,
vamos, primeiro, dar um curso mais célere em tudo que estiver contratado em
andamento, com recursos garantidos, e preparar, refinar, os projetos para o
momento em que tiver disponibilidade de recursos. Minha expectativa, otimista,
é que no segundo semestre nós possamos ter a abertura (de mais crédito) para
recepcionar novos projetos.
O
senhor destaca três áreas prioritárias no seu governo, saúde, educação e
segurança. No seu discurso fala que vai liderar o processo de uma escola
inclusiva e de qualidade. Como vai ser?
Esta será
absolutamente minha prioridade. Estou propondo um pacto pela educação,
mobilizando os prefeitos, os secretários municipais. Vamos olhar a educação não
só no segundo grau. Mas, também, os nove anos antes de estudo que o aluno teve
para chegar lá. Se essa formação tiver problema, vai comprometer o resto.
Então, temos que cuidar da educação, desde a pré-escola até a universidade. Por
isso estou chamando para mim mesmo, essa tarefa, de mobilizar prefeitos,
secretários e pais e alunos.
Saúde
é um problema nacional e o senhor defende mais recursos para o setor. Virá mais
imposto, nova CPMF, para o contribuinte arcar?
Acho que
tem que ter um debate com a sociedade, os brasileiros acham necessário mais
recursos para a Saúde. Defendo mais recursos porque houve uma rápida mudança do
perfil demográfico brasileiro e, no Nordeste, isto é mais acentuado. Nos
últimos 12 anos melhoraram a renda do brasileiro, os investimentos na região, o
PIB cresceu mais e as pessoas tiveram mais acesso à informação. A queda da
natalidade no Nordeste é expressiva e há uma população maior na faixa de idade
madura com uma parcela crescente de idosos, que estão vivendo mais. Então, quem
vive mais demanda uma quantidade maior de serviços, de média e alta
complexidade, cada vez mais caros.
Mas
de onde virão os recursos?
Nós
precisamos, sem receio, conversar com a sociedade. O Brasil precisa de
infraestrutura, mas se o País disser: vamos cortar desses investimentos e
colocar na saúde para não aumentar imposto, é uma opção. Vamos pensar de onde
cortar. Um imposto que sempre se pensou, e que outros países adotam, como os
Estados Unidos, é sobre as grandes fortunas. enfim, defendo menos preconceito
em relação a essa questão, e que o debate seja colocado às claras, porque não é
uma questão partidária. Eu falei com Alckmin (governador de São Paulo, do PSDB)
e ele disse ser plenamente favorável a que se tenhamos uma nova fonte de
recursos para a saúde.
A
segurança é um outro grande problema. O senhor acaba de nomear o novo
comandante da PM no Estado. Como pretende diminuir, efetivamente, a violência?
Se olharmos
os índices de homicídio, há uma guerra civil. Mas quando identificamos o perfil
desses homicídios, vê-se que 80% são homicídios vinculados direta ou
indiretamente ao tráfico de drogas. É assim no resto do País. Mantive o
secretário de Segurança e estou trocando os dois braços operacionais, para
otimizar as ações na área.
O
que o senhor espera com essa troca nos comandos operacionais?
O que penso
é otimizar ao máximo, no caso da PM, o efetivo de policiais que nós temos e
retirar os policiais que hoje estão dispersos em outros poderes, fazendo outras
coisas no Estado, em trabalhos burocráticos, dentro e fora do governo, nas
prefeituras, na Assembleia. Quero chamar boa parte destes policiais de volta
(aos quartéis).
O
senhor tem ideia de quantos policiais estão fora das ruas?
Cedidos a
outros poderes nós temos 1.200 policias. Em parte burocrática temos cerca de 2
mil dentro do Estado, e quanto aos cedidos às prefeituras já pedi o
levantamento dos números. Então, numa conta rápida, estamos falando de quase 4
mil policiais que poderiam estar reforçando o policiamento nas ruas e estão
fazendo trabalho administrativo, burocrático, ou, às vezes, sendo porteiro de
outros órgãos públicos e atuando como vigilantes. Esta não é uma função de um
policial militar e nós vamos consertar isso. Trabalho de porteiro deve ser
feito por porteiro. Trabalho de vigilante deve ser feito por vigilante. Nós
queremos valorizar nossos profissionais para que possam atuar nas atividades
fins, para as quais fizeram concurso público para serem policiais civis e
militares. E vamos implementar algumas medidas de reorganização das duas
polícias, de modernização, e instalar, não só na Região Metropolitana mas no
Estado inteiro, câmaras com monitores para otimizar o trabalho da polícia
naquelas áreas onde há um potencial maior de crime.
O
senhor logo vai se deparar com as demandas do funcionalismo. Maio é a data-base
de reajuste salarial e ainda tem o pagamento da URV. O que o senhor pode dizer
à categoria, tendo em conta que o governo passado enfrentou duas grandes
greves, dos professores e dos policiais?
Nós temos
uma realidade difícil ,de crise, que todos nós sofremos e vamos viver este
cenário. Os avanços salariais e benefícios estão atrelados às possibilidades
financeiras e de economia do estado. Não há milagre a fazer. Mas nós vamos
dialogar, conversar bastante. Ao longo dos últimos anos houve uma
inquestionável evolução nos ganhos dos servidores. Nem todo ano dá para ser no
mesmo ritmo do ano anterior. Portanto, vamos ver o cenário que se coloca, fazer
conta, e ver a possibilidade do que e quanto atender.
Dá
para antecipar se o reajuste do funcionalismo ficará acima da inflação
acumulada no período?
Por
enquanto não dá para antecipar nada. Nós ainda estamos fazendo um balanço de
como virou ano, do que foi empenhado, do que tem ainda de restos a pagar. Isso
vai levar de 10 a 15 dias.
Nesta
audiência, que o senhor disse que terá com a presidente Dilma, qual vai ser a
pauta tratada?
Queremos
discutir o projeto do eixo sul do São Francisco, o Canal do Sertão, para
abastecimento de água. Falar com ela do investimento do Porto Sul (em Ilhéus e
que está acoplado ao projeto da ferrovia Oeste-Leste), das obras de
infraestrutura de aeroportos no estado, e, também da ponte Salvador -Itaparica,
que vai desenvolver o Recôncavo e a região do baixo-sul do Estado (custo
estimado de R$ 7 bilhões). Estamos com o projeto pronto, já antecipamos uma
cópia impressa para a presidente, que vai precisar de dinheiro do governo
federal e da iniciativa privada. Vamos fazer, neste primeiro semestre, uma
busca no mercado internacional de investidores que queiram apostar no projeto ,
que tem previsão de cinco anos para ser concluído.
Como
o ex-governador, hoje ministro da Defesa Jaques Wagner, vai ajudar seu governo
lá em Brasília, estando numa pasta que não tem investimentos diretos para a
Bahia?
Eu quero
dizer que a Bahia tem demandas em todas as áreas de governo. E se o ministro
(Wagner) estivesse no Ministério das Cidades ou da Integração, não ia resolver
os grandes problemas a partir de um ministério apenas. Nós precisamos de todos
os ministérios. Então, conta mais qual o compromisso da presidente Dilma, qual
a relação que eu tenho com todos os ministros de Estado. Conheço praticamente
todos os ministros. O ministro das Cidades (Gilberto Kassab, do PSD) me disse,
na sua posse, que iria me dar , e a Otto (senador eleito do PSD), tratamento
como se fosse o estado dele (são Paulo). Ouvi isso da ministra Tereza Campello
(Desenvolvimento social e combate à Fome). Então, não terei dificuldade.
Evidente que a disponibilidade de recursos estará vinculado ao País resolver
suas questões macroeconômicas. Mas o ex-governador estando no conselho político
da presidente, ele vai ajudar sobremaneira.
Como
será a relação com o prefeito de Salvador ACM Neto (DEM), depois de uma disputa
eleitoral agressiva?
Vou tratar
o prefeito do município de Salvador com o mesmo respeito que tratarei todos os
prefeitos. Em Salvador moram 3 milhões de baianos, cuja maioria votou em mim.
Tenho que retribuir a essa povo com muito carinho, com muita atenção. E vou
buscar na administração municipal respostas com o máximo de profissionalismo
possível, e, da minha parte, ela terá a mesma retribuição. Então, aquilo que
for bom para Salvador, espero que ele (ACM Neto) dê celeridade e que facilite,
e aquilo que da minha parte eu puder ajudar, também. Temos questões a resolver,
como a integração do metrô, a definição da tarifa, e outras formas de
relacionamento. Espero que a gente coloque a política de lado e cuide dos interesses
da cidade.
O
senhor tem uma aliança ampla na Assembleia Legislativa. O senador Otto Elencar,
no dia da posse, já antecipou o interesse de PSD, em disputar a prefeitura de
Salvador, que é uma meta do PT? Como lidar com pressões do tipo?
Não sei se
Salvador é uma meta do PT, aí quem pode falar melhor é o presidente do partido.
Mas, não acho que o PT tenha exclusividade para colocar candidaturas para
prefeitos, muito menos em Salvador. Acho que temos que encarar com naturalidade
que nossos parceiros políticos coloquem candidaturas. Quem sabe o PT não pode
apoiar um desses nomes que podem aparecer? São 417 municípios, se em alguns os
candidatos têm mais chances que em outros, seria o caso de o PT, aqui ou ali,
abrir mão de uma candidatura sua para tentar fazer vitória onde ele tem um
desempenho melhor.. A disputa municipal não será dificuldade para a base do
governo e não serei coordenador de campanha municipal, nem mesmo de Salvador.
Eu vou cuidar é da gestão., eu vou me posicionar.
E a
busca do deputado Marcelo Nilo (PDT) para o seu quinto mandato de presidente da
Assembleia, qual a opinião do senhor?
Quem decide
é a Assembleia, mas já manifestei publicamente que o revezamento é sempre uma
boa medida para o parlamento, que é uma casa de iguais. Marcelo já me disse, e
quero registrar isso, que ele vai colocar para votação o fim da reeleição de
presidente na Assembleia, e eu o parabenizo por isso. Materia original atarde