Um ponto azul miúdo destoa no meio do mar vermelho no mapa da votação presidencial na Bahia. Buerarema, no sul do Estado, foi a única das 417 cidades baianas em que Dilma Rousseff (PT) não foi a mais votada.

Lá, Aécio Neves (PSDB) obteve 67% dos votos, contra 26% da presidente e 6% de Marina Silva (PSB). A vitória tucana veio sem esforço –não há comitê e nem propaganda do PSDB nas ruas. A única publicidade vista pela reportagem foi do candidato derrotado ao governo Paulo Souto (DEM) –que lá teve 77% dos votos, ante 37% no Estado.

Mas uma tarde pela cidade de 19 mil habitantes é suficiente para entender o resultado das urnas: há em Buerarema um arraigado sentimento anti-PT, oriundo de um tenso conflito indígena na região.

Segundo moradores ouvidos pela reportagem, Dilma é leniente com as cerca de 150 invasões promovidas por tupinambás na região desde 2012.

Os índios, em ação que chamam de “retomada”, querem demarcação de 47 mil hectares entre Ilhéus, Una e Buerarema. Produtores, que vivem na cidade e trabalham na zona rural, se dizem prejudicados.


“Não queremos esse governo do PT que gosta de índio. Índio não vale nada”, disse Romário da Silva, 20, atendente de açougue e eleitor de Aécio. O patrão dele teve a fazenda invadida por índios.
A presidente do PT local, Marta Marques, reconhece rejeição “muito grande” ao partido. “Mas acho que essa questão indígena vem desde o governo FHC, é problema antigo”, afirma.
Aécio esteve na vizinha Itabuna no dia 18, mas quase ninguém soube.
“Ficamos sabendo que ele prometeu resolver a questão. Votamos em Aécio como opção contra o PT”, disse Domingos Alfredo, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas.

A Folha tentou, sem sucesso, contato com o líder dos índios na região
Imagem da cidade é da internet

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