Na opinião do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, os militares contemporâneos fariam um favor a si mesmos se rompessem o silêncio sobre o espinhoso tema da tortura. O repórter Cristian Klein, do Valor, perguntou a FHC se, decorridos 50 anos do golpe, os torturadores deveriam ser punidos.

“Eles estão confessando, publicamente”, respondeu o grão-tucano. “Aliás, é uma coisa horripilante o cinismo com que eles falam. Mas acho que a esta altura não há quem esteja pedindo revanche. E também tem que entender que as Forças Armadas mudaram.”

Ele prosseguiu: “Eu não entendo porque é que as Forças Armadas ainda não dizem: ‘Olha aqui. Nós fizemos isso e foi errado’. Porque se eles disserem isso, acabou. Ninguém é contra as Forças Armadas no Brasil. Quem se rebela ou acha que elas são de direita? Ninguém. Não tem isso. Acho que elas [Forças Armadas] também poderiam ajudar a, digamos, botar uma pedra final nisso.”

Acha que as Forças Armadas são excessivamente defensivas?  “Eu, como presidente da República, pedi desculpas em nome do Estado brasileiro. E avisei que ia fazer isso e criei aquela primeira comissão de reparação. O Estado teve responsabilidade. E não vejo agora porque não as próprias Forças Armadas dizerem: ‘Erramos’. As dependências eram administrativas das Forças Armadas. Não podia ter deixado. Foi mais que um erro. Fez uma coisa ativa. Mas foi uma minoria. Por que essa maioria de hoje não diz isso: ‘Não temos nada [a ver] com isso? E todo mundo sabe que eles não têm’.”


Pesquisa feita pelo Datafolha revela que FHC se engana ao dizer que “não há quem esteja pedindo revanche”. Em verdade, 46% dos brasileiros apoiam a revisão da Lei de Anistia. Isso talvez ajude a explicar, sob a ótica militar, por que as Forças Armadas ainda não romperam o silêncio enexplicável.josiasdesouza

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