RIO - Num 10 de abril, há exatamente 40 anos, Paul McCartney surpreendeu seus três camaradas nos Beatles ao distribuir um comunicado oficial para a mídia anunciando seu desligamento do grupo. Em lance de oportunismo, que abriu profunda ferida entre eles, o anúncio coincidiu com a distribuição para a imprensa de cópias de seu primeiro disco solo, "McCartney". Após a separação, em maio, eles ainda lançaram um derradeiro álbum, "Let it be", que fora gravado antes de "Abbey Road" (este, editado em 1969), mas o fim já fora decretado pela saída de Paul.
Fim que, por ter acontecido com os Beatles ainda no auge e não ter tido volta, após as mortes de John Lennon (em 1980) e George Harrison (em 2001), contribuiu para aumentar a mística em torno do grupo e de sua admirável obra. Tanto que, quatro décadas após, não só seu catálogo oficial como muitas raspas de tacho são reeditados periodicamente, beneficiados pelas efemérides que se sucedem. Um exemplo entre essas sobras acaba de sair no Brasil, o DVD "The Beatles: Live at Shea" (Coqueiro Verde), com o histórico concerto em 15 de agosto de 1965 no estádio em Nova York, quando se apresentaram para o público então recorde de 55 mil pessoas. Na grande maioria, ensandecidas fãs, protagonizando o ritual de histeria que marcou a beatlemania na primeira metade da carreira do grupo.
Em 1965, a indústria de grandes shows de rock engatinhava. As caixas de 100 watts utilizadas pelo quarteto no palco montado no centro do gramado eram insuficientes para atingir a plateia que se espalhava pelas arquibancadas, e os produtores também tiveram que apelar para o precário sistema de som do estádio. O resultado? Os sucessos dos Beatles soavam como saídos de um rádio de pilha e eram abafados pela gritaria dos fãs. O DVD "Live at Shea" traz o programa que a produtora de Ed Sullivan (então um dos principais apresentadores da TV americana e, desde 1964, importante aliado do quarteto e de seu empresário, Brian Epstein, para a conquista dos EUA) fez para a rede ABC exibir em 1966. Em janeiro daquele ano, John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr entraram num estúdio em Londres, e, com as imagens do show sendo projetadas, gravaram o áudio que foi utilizado no especial. Isso explica a razoável qualidade desse registro "ao vivo". Como também era comum no período, a apresentação é curta, constando de 11 canções em apenas 30 minutos. O DVD traz dois inflados extras: "Bastidores", que reprisa boa parte do show, acrescido de cenas de bastidores e comentários em off dos quatro; e "Depoimentos dos Beatles", com mais reprise do concerto e entrevistas com eles, provavelmente feitas nos anos 1990 para o documentário "Anthology". Ou seja, limpando as canções que são repetidas nos extras, sobra cerca de uma hora de conteúdo. Mas com curiosidades, principalmente nos "Bastidores", com trechos de algumas das atrações de abertura, incluindo os Discoteque Dancers - cinco garotas e um rapaz em coreografias patéticas -, o ótimo grupo do saxofonista King Curtis, a cantora soul Brenda Halloway e a datada banda Sounds Incorporated.
O show dos Beatles é aberto por "Twist and shout", e, entre as 11 músicas, duas, "She's a woman" e "Everybody's trying to be my baby", não trazem imagens em movimento, são ilustradas por fotos da noite. Estão ainda no repertório alguns de seus principais sucessos na época, como "Can't buy me love", "A hard day's night", "Help" e, no grand finale, com John Lennon pela primeira vez tocando órgão ao vivo (até com os cotovelos), uma demolidora e pra cima "I'm down".
O DVD pouco acrescenta, mas poderá interessar a betleamaníacos, antes de começar nova sequência de efemérides, a partir de 2012, quando se completarão os 50 anos da estreia do grupo em disco.
Fonte - O Globo / Cultura