As supostas conversas, ocorridas pelo
aplicativo Telegram, mostram que Moro orienta Dallagnol em vários momentos da
Lava-jato. O Ministério Público Federal no Paraná informou que a força-tarefa
foi vítima de um ataque criminoso de hackers e que conversas entre procuradores
foram divulgadas sem o devido contexto. Moro afirmou que o teor das conversas
não contém irregularidades.
Nas conversas, Sérgio Moro, então juiz da 13ª Vara de
Curitiba, teria sugerido a Deltan Dallagnol que trocasse a ordem de fases da
Lava Jato e cobrado mais agilidade nas operações. Segundo a reportagem do
"The Intercept Brasil", Moro deu conselhos estratégicos a Dallagnol e
passou pistas de investigação.
Também teria antecipado uma decisão judicial, sugerido
recursos que o Ministério Público deveria fazer e dado broncas ao procurador
como se estivesse em posição hierárquica superior.
Uma das conversas mostra que os procuradores e Moro teriam
impedido a realização de entrevistas com o ex-presidente Lula por temer que
isso pudesse ajudar o candidato petista à Presidência, Fernando Haddad, nas
eleições. Em outra conversa, a quatro dias da denúncia contra Lula no caso do
triplex, Dallagnol teria manifestado dúvidas sobre as provas colhidas contra o
ex-presidente.
O Intercept afirma que recebeu um lote de arquivos secretos
de uma fonte anônima. Segundo o jornalista Glenn Greenwald, diretor da
publicação, há áudios, vídeos e fotos que comprovam os diálogos entre Moro e
Dallanglon e entre os procuradores da Lava Jato. Até agora, o site publicou
apenas a transcrição das conversas.
Em nota enviada pela assessoria, Moro afirma que o conteúdo
das mensagens atribuídas a ele não mostram qualquer anormalidade ou
direcionamento da atuação como juiz. Ele diz que as mensagens foram retiradas
de contexto. O ministro afirma ainda que a reportagem é sensacionalista e que
deveria indicar a fonte que repassou as conversas.
Em nota, a força-tarefa do MPF do Paraná informou que hackers
invadiram telefones e aplicativos dos procuradores usados para comunicação
privada e no interesse do trabalho. Dentre as informações copiadas,
possivelmente estão documentos e dados sobre estratégias e investigações em
andamento e sobre rotinas pessoais.
Segundo o MPF, os dados eventualmente obtidos refletem uma
atividade desenvolvida com pleno respeito à legalidade e de forma técnica e
imparcial. A procuradoria prossegue dizendo que é de se esperar que a atividade
criminosa continue e avance para deturpar fatos, falsificar integral ou
parcialmente informações e disseminar "fake news".
A nota diz ainda que vários dos integrantes da força-tarefa
de procuradores são amigos próximos e, nesse ambiente, são comuns desabafos e
brincadeiras que podem dar margem a interpretações equivocadas.
Por fim, a procuradoria afirma que eventuais críticas feitas
pela opinião pública sobre as mensagens serão recebidas como uma oportunidade
para o aperfeiçoamento dos trabalhos da força-tarefa.
Também em nota, a defesa de Lula diz que a reportagem mostra
que houve uma combinação na Lava Jato com o objetivo de processar, condenar e
prender o ex-presidente. Afirma ainda que os processos estão corrompidos e que
é urgente restabelecer a liberdade a Lula.|cbn/globoradio / Sergio Moro. FOTO: Marcelo Camargo/Agência Brasil